segunda-feira, 22 de junho de 2009

De Esfihas à Ponta Porã

No meu prédio, um velho. Um velho, no meu prédio.

Ele é um sujeito ranzinza, não confia nos baia-- porteiros ao contrário de mim, é mal-educado com muita gente - logo muita gente não gosta [nem um pouco] dele, tem uma cara de quem comeu-e-não-gostou e sem falar do orgulho dele com relação aos filhos.

Porém, e é aí que a coisa fica interessante, eu costumo conversar com ele sobre quase muita coisa da vida dele (essa frase foi intencional). "Seu Jabur", como costumo chamar, nasceu em 1925 e fez coisas que eu acho sensacionais... Ele não saiu muito do Brasil, mas serviu no exército na 2ª Guerra Mundial na put-- em Ponta Porã; ficou no Rio de 1950 até 1960 mais ou menos, viu alguns shows ("só João Gilberto, Tom Jobim e João Donato" como ele disse) no começo da bossa nova além de pegar algumas loiras e morenas num hotel em Copacabana; trabalhou como advogado na época da ditadura e entre outras várias peripécias que são no mínimo fantásticas.

"Ah então você, além da mulher, gosta dele." Não sei. Na verdade, não sei. Ele é um sujeito muito (por falta, acredite, de palavra ou expressão melhor) estranho. Gosto de pensar que ele é apenas um sujeito que mora no meu prédio e, que é quando escuto essas histórias, passeia com seu cão e na coincidência, divide voltas no quarteirão (eu também tenho cachorros, tenho de fazer o mesmo por motivos... 'óbvios').

Penso às vezes como serei na idade dele. Como tudo será quando eu tiver a idade dele... Não sei. E devo fazer na verdade, quando me ocorre este pensamento, o mesmo que ele fez quando o interrompi na nossa última conversa:

"...Hm. Mas, então, foi lá que eu aprendi a fazer esfihas..."

2 comentários: